sexta-feira, 14 de maio de 2010



Tinha habilidade com o recombinamento das coisas. Cores, peças, épocas, já que algumas vinham das avós e das tias, reconciliadas através das amigas, que levavam a memória dos objetos que davam forma à fumaça daquele cigarro. Muito havia se passado desde o primeiro encontro. Lembraria sempre do cachecol e do medo dos vampiros. Depois, vieram os colares e, em suas contas, os contos, desabafos de amores que ouvia da avó e que minavam dos olhos por ter aquele sorriso, doce, grato. Tentava sorrir assim também, pura sem-graceza. Sabíamos o que nos fazia diferentes e todos os encontros eram cheios de acontecimentos, desde o ferro, usado com brasas, o plástico bolha e, os brincos, nunca tirados, íntimos, desde o primeiro dia. E a irmã. Sua primeira filha que, segundo a mãe, era do pai. Um bom motivo para que todos os de sua família fossem assim, crentes. Todos os seus irmãos e filhas. Menos o eu, por ser filha dela e, a cada enrugar e a cada cicatriz, comprovar que evitar acidentes é possível. E do valioso que é a última rua e o cemitério. Pra poder namorar.