quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Começou no finzinho da noite anterior, Ares noturno e a quentura de Apolo, ou somente as amoreiras ardem nas madrugadas? Não dura a delicadeza com que espreguiça a sua luz, que chega afoita, com cores de recomeço. O que muda nos dias são seus nomes e a chuva. E o desejo é só de um hoje sem o peso de todo dia. Outro dia novo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

E tudo o que dificulta a vida é também o que a salva da mediocridade e do vazio. Como essa crença na possibilidade do impossível. O mundo em que estava era o contrário do que parecia real, mas se deixou ficar, conhecendo os habitantes do lugar. Loucos, como todos os que habitam os mundos às avessas. Alguns pedem respostas pelo e descrevem em minúcias, ditas e omitidas, as paisagens possíveis às janelas de ônibus. Diários de bordo. As caixas pretas que permitem o entendimento das catástrofes mas que não as podem evitar.

sábado, 13 de agosto de 2011

Rede de apanhar borboletas

O quarto só teria atenção numa reprodução de Van Gogh. Era amplo, consideradas as acomodações humanas possíveis, mas um pouco apertado para a própria pequenez. É apropriado mencionar as passagens secretas, tão logo encontre onde bater as cinzas e com o quê afixar os pregos. E que a vizinha não nos ouça. Naquele dia, terça feira, fiz com que amanhecesse um sábado de sol e retirei a poeira que nos recobriam as folhas, chovendo toda nuvem sobre elas e o carro estacionado. E a vizinha falava, falava e falava só pra eu falar também, mesmo dentro de casa, por preguiça só, já que por essas bandas, por mais que se trepe, sempre tem há quem falta e tomar no cu é iguaria das mais fina, para os que conhecem o próprio gosto e se comprazem com os sábados, de que criação sejam. Ao encontrar as passagens lembre-se de que oferecer sobremesa pra quem está de dieta é deselegante. Não há mal na falta de xícaras, gosto de tomar no cu. Quando acontece, é. Tomar no cu é bom dia! Mas no escasso se encontra a afronta e nem se vai para lado algum. Eu fico aqui, no meu sábado de sol.

As plantas ditam um novo sentido para o germinar das coisas. Uma nova nesga de luz, deixa à vista um instante além deste por onde seguimos em nossa breve eternidade. Os gritos dos vizinhos dão à dimensão do ordinário das coisas. As sirenes e as buzinas buscando que secreto, que esconderijo de mim. Passam perto, mas se vão, apresadas e barulhentas o bastante para se darem conta dos meus crimes silenciosos e dos meus acidentes fatais. Como aquele em que fiquei ali parada, o sujo de sorvete no canto na boca, as remelas e marcas do dentifrício: o glamour do cotidiano fodido de quem já nasceu com selo de fodido. Comer e comer, uma coisa pela outra, outra por uma, no fim, uma coisa só. Que nem viajar. Meu pensamento entra em ebulição em altas temperaturas, por isso pouco resta, a maior parte derrete, se evapora. Que segurança pode haver em um caminho tarjado de preto? Como as ondas... Esta, a que me leva mansa pela superfície das coisas. E que inspiração há na mesmice da promiscuidade primeira que é respirar? Às vezes ainda me pego de rabo de olho, olhando se deus vem vindo de inferno na mão, tomar tudo no cu, ser feliz até que deu e me deixem em paz, amém. E se fosse para o colo de Deus e nele se aconchegasse? Só se fosse para chamá-lo de velho bobo babão, repetindo pais e os vizinhos, aqueles que nos pagavam balas e nos carregavam pra casa, sabendo ou não, putinhas. Só o nojo de seus dentes postiços e do cheiro de óleo queimado e perfumes fortes e variados sobrepostos: nauseabundo, não comeu. Nada de bons ou boas moças, todos cagando pra família, não comeu porque sabia que não dava conta. Quando se perguntar sobre as posologias certas, a cura do mal é sexo, sorvete de chocolate e maconha, não importando a ordem. E, por via das dúvidas, alguns comprimidos. Os dentes, na missão de morder, cenouras é o que existe à mão. Suculenta e tenra cenoura, doce desafio para as minhas mandíbulas. Enquanto se atarefam os dentes descansam os lábios de seus infindáveis suspiros, um emendadinho no outro. Eu quero um amor jeitadinho, feinho não porque sou fútil: gosto de homens bonitos. Mas cadê um feio? Beleza tem pra todo mundo, cada um com a sua. A chama que queima meus cabelos e meu interior. Amornado na falta de tato do galante mancebo: resta o isqueiro e meu cigarro. O fogo, só o que me derrete a traqueia, escorrendo lava vertida sangue. O sangue escorrido de ti, mastigado por minha buceta, sempre dócil e mansa, ou pela vontade de se deixar devorar. No caminho, as formigas, ensinando a arte de consumir um corpo, especialmente as minúsculas. Odeio formigas e suas ordens e, no entanto, meu avô me disse que o cu de qualquer uma delas é mais importante do que essa merda que eu faço.