segunda-feira, 27 de abril de 2009

O viu passando, junto ao outro, o primeiro. Volta por um franzir de nariz. Seria essa a sua voz? Sentiu ciúme da mulher que estava ao seu lado naquela foto, a irmã. A segurança que encontrava nela, o que nenhum homem alcança nas profundidades de nenhuma mulher. A terra que acolhe a semente sem recusar as marcas do processo de se fazer. E com afetuoso interesse por saber as belezas e os gostos que guardam. Havia ali o brilho do que torna possível adormecer segurando as mãos, dividir a mesma cama e a intimidade do que é. De tudo o que amedronta em viver com outra pessoa, o desafio é dormir junto. Mencionou certa vez sobre o desprezo que alguns dos habitantes dessa terra fria dispensam às teorias dos que só pensam em brincar. Mas foi você quem ficou acordado. Agora canta o homem que tornou possívil a palavra tropicaliente. Parecia um bom adjetivo. Sempre canta. O recusar da mão é tão covarde quanto observar o sonhar do outro e desejar seu sonho sem coragem para sonhar.

E o que sou senão essa página em branco? Doem mais as pessoas porque os bichos usam as unhas e os dentes para delimitar o bicho que fala. Quem ama cactos sabe de seus espinhos e aceita a intenção de ferir e a pega nos braços, suja de sangue e fezes, e permite que escreva ali, com seus dentes, a dor das feridas e dos olhos onde brilhava a vergonha do desejo de fugir e não passar por esse caminho. E por isso as pessoas doem. Pelas páginas em branco.

sábado, 25 de abril de 2009

Aos poucos se vão as partes inteiras de mim, preservadas em bordados inacabados, no tecer sem fim do que nunca termina e nesta letra, a que tanto desejei possuir. E agora que acendo essas luzes e suas brasas, ouço a voz da mulher forte e que canta macio a dor do amor. E volto a pensar em você. Há duas noites o encontrei e ouvi sua voz. E também houveram pensamentos sobre o modo como cada um procura organizar o mundo, e cigarros, e música. Tímida, embora ousada e firme. E leve. E de uma doçura tão grande quanto a arrogância, o olhar benevolente. E esse depois de você que veio até mim é o seu antes, aquele em que eu teria sido, gema de ovos de chocolate, combustível para a viagem ao estrangeiro. Mas o olhar era outro, ainda não sabido, não compreendido, era outro. Aproveito o tempo para entender o que em você fez brotar o que de mais vicejante, a rosa, que já houve em mim. Todos os telhados eram jardins. Que força determinou que assim fosse? A ausência só existiu porque foi vista.

O nome dele

Vasculho as pastas que há muito deveria ter organizado. Porque o que mais pode fazer o olvido? E como se poderia esquecer de fazer o que foi esquecido? Busco o reconhecimento, o resgate de mim tentando antipatizar com Caetano Veloso. E o problema de errar é que sei escrever. Conheço as regras e acredito que se submeter é o desejo de seguir. Porque o problema das coisas é que elas trazem junto pessoas, onde o mínimo é tudo, esses canteiros onde tudo brotava e que agora é guardado pelos cactos. Porque às vezes só nos resta buscar explicações por personagens de seriados, um possível. Como o programa pirateado recomendando o uso de crases e um devido uso de se, esse acaso que nos acontece. E a diferença é que agora já não poderia rezar pela minha morte. Como poderiam lhe dar a única coisa realmente dada pela própria vida? Organizo as pastas que tornaram possível suster o impulso de chegar lá, na época em que rezava rosários pedindo o encontro e o silêncio, o silêncio. E por isso ligava o rádio e recebia o gosto que era lavar e passar o vestir das coisas. Calava as inquietações e os ouvia. E que maior proximidade e poder tem esse Deus que me leva em si? Não sei. Eu o chamo Música.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O prazer que era lavar, secar e encerar a garagem e a varanda daquela casa que embora fosse pequena me parecia enorme e que guardava ninhos e minha vontade de amar alguém. Eu, que tanto havia amado. Restava daquilo, em forma de coração, uma bexiga vazia. Como os espaços, que ainda tenho e onde coloco tudo. Tenho cabelos de ser como o jogador de basquete do desenho animado. O desejei ver, em companhia do padrinho, saber se aqueles cabelos eram para guardar. Na eminência de raspá-los, mais uma vez, esse sentir cheio de vírgulas e nenhum sentido. Sabia que era um deles mesmo quando desejou ser outro, o silêncio que fui por não ter palavra de dizer.

Um deles, a poucos instantes, urinava em frente de mim. E, enquanto fumo e bebo, as coisas que dizem bichinhos-voadores-que-acendem, brilham em volta deste lugar. Há tanto pela frente, frenéticos e falantes e, ai, se apagam. Porque o mar não mostra aos meus olhos tudo o que guarda. Guarda, como o tudo mais, essa necessidade de canto que é roçar de pele, violão encostado ao peito que diz, com a ajuda das mãos, o que a palavra esqueceu de dizer. Um brilho a se ver. A ser. Porque também me faço no susto, embora saiba que tudo acontece. E o que poderia contar de tudo? Havia, sempre, um canto.

sábado, 18 de abril de 2009

Passional?

E mais uma vez penso nela, a que me é e que me ensina do não saber de si. Duas vezes aconteceu o sol, chegada e partida. E hoje aconteceram os pés de café, frutos maduros prometendo gosto. E, com o cheiro adivinhado, o que me invade é a paixão verdadeira, a paixão do que trai, porque, o traído, só se deixa. Para a fidelidade nem amor gasta, que se pergunte aos cães. Mas para trair é necessário paixão. Só os apaixonados traem em verdade. E em verdade digo, quem trai morre e ressuscita duas vezes.

sábado, 4 de abril de 2009

Brincando com Um Som

Volta à disposição dos 3 anos de idade. E por isso ser ponte, porque cri não haver mal algum em que as pessoas sejam encantadoras. Um olhar lúcido e leve explicando o mundo, esse só isso mesmo com tudo isso dentro. Ambiciono o desumano e faço reformas nas grafias das coisas.

Campari

Gostaria, imensamente, de ter mais talento para o mal. Habilidades, todos temos. E o talento diz da qualidade do prazer proporcionado. Uns gostam, outros não.