ácido valpróico, lítio e bolinhos de chuva
Recomendado somente sob prescrição.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Rede de apanhar borboletas
segunda-feira, 12 de julho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
sábado, 24 de abril de 2010
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
nêga
Mas é a nós que é pedida a macheza de ter uma bunda e andar com ela por aí, nas igrejas, nos supermercados, nas escolas, nas rodas. Porque nós, as negras, desde meninas, temos sido carne de saciar fomes que não são nossas. Dos parentes aos patrões.
A eles damos nosso riso ambíguo, de nervosismo, tensão, o deboche diante de toda a merda em que se convertem sobre os altares em que declaram que um dia irão mentir e trair. A traição que conheceram com a posse, aqui chamada infidelidade, independentemente de partido ou desejo. A traição que é anterior ao nome de Judas, de quem não a cometeu: a traição da própria liberdade.
Nada além de que ser deveria se esperado do que ainda não está pronto e que se faz, como tudo, no decorrer das coisas e dos afetos.
E pela invenção do amor, vieram os cães. Eles permitem que acreditemos em nossa capacidade de amar. E por ser frágil a capacidade de amor dos homens, em sua maioria, não confiam em gatos, gatos não se traem. Coleira que segura Luma não me prende Eike.
E como minha carne veio barato, somente à custa de humilhações e agravos acumulados durante os séculos, nada impede que um negro, que instruía na sabedoria dos negros, dizer: que delícia, assim até eu vou querer um pedaço. Pedaço de que?
E em alguns momentos os homens se tornam cegos, não podem nos ver... Perdidos que são na construção de uma mulher feita por cosméticos e dietas, não poderiam lidar com uma mulher que caminha livremente, sem mão de dono que a conduza e que, mesmo em sua timidez de carne entre famintos, não se preserva nas páginas das folhinhas e delas não segue receitas, nem de bons modos, nem de bolo e nem de sexo.
E por isso sigo incompleta, porque desejo um homem que seja capaz de me comer inteira e não aos pedaços. A minha bunda é só uma parte de um corpo que é só uma parte de mim. A parte com prazo de validade. E isso já seria motivo mais que suficiente para que eu não faça reservas e me deixe devorar sem restrições. A todos que têm fome de mim, me dou, mas só aos que têm paladar e estômago para conhecer meu gosto, pertenço.
Comer todos podem. Digerir, só alguns. Minha doçura é veneno e o que em mim foi sustento, intoxica quem com a boca me feriu. Carne de peixe e cobra que poucos conseguem comer e gozar em seu gosto porque o gosto das coisas é muito além do que foi imaginado. E de mim não dou pedaço a ninguém e quem tem direito não pede, só toca, desfazendo o intransponível de mim, o que não mais existe mais. E nem mim existe. Nem eu. Só o que há é o respirar das coisas, o arfar do gato, dormindo por três dias, depois de quatro sem que dele se tivesse notícia além de que a Lua se mostrava inteira. O sono profundo após noites seguidas existindo. Sendo, os gatos têm muito mais do que sete vidas. E que pedaço de um gato seria pedido por quem o desejasse? Eu quero o pedaço da leveza e com ele transitar pelo ordinário das coisas sem sofrer por não ter a surpresa de que hoje não sejam melhores do que foram ontem.
Tudo é o que sua espécie e seus sonhos lhe permitem ser. Os homens são os homens e os limites dos homens são os limites dos homens e, se não pode ser ofensa o desejo do homem, ofensa é sua fraqueza, a sua digestão delicada da realidade da vida. E se o comum de tudo não é motivo para que ninguém se ofenda, por que ofenderiam ao deus masculino os pecados das mulheres? O pecado de não se saciarem apenas com um pênis e que delas, seu filho homem, tivesse conhecido a entrega.
A mim encantam os pênis, mas nenhum conheci rijo e vigoroso o suficiente para que meu mundo se alicerçasse sobre ele. Não podem suster a si mesmos sozinhos e para sua glória surge a indústria com os produtos de carne e osso. E venderiam suas filhas por este prazer. O sorrateiro e todas as sombras que lhes impeçam olhar atentamente e reconhecer, no mesmo rosto de mulher, as três tecelãs. Necessitam dos entretenimentos eróticos, corpos femininos, imagens e tudo o que lhes possibilite a contemplação do falo por que, no dia-a-dia, nenhum deles sustentaria um dizer, em força e virilidade, ao lado de uma mulher.
Todos se mostram, inevitavelmente, sem máscaras, no auge de seus 12 anos, talvez ainda por completar. Precisam pular aqui e ali, se afirmar, se impor e, pra isso, precisam de muito, em muitas, para que não se confrontem com o tão pouco que têm a oferecer.
Feminina e feminista também concluo que meu melhor movimento é sem dúvida o de quadril, e o movendo, os atinjo com o pé e digo que só o que existe é o ainda não inventado.Todo o resto se tornam os próprios homens.
E por isso crio e recrio. Os modelos não se conservam inteiros, todos muito frágeis, como seus pênis, testículos e imaginação. E só por ser mulher os recebo, aberta. Os acolho e me deixo penetrar por seus pedaços com que procuro construir um homem inteiro, a espera de admirar sua força e seu caráter.
E verdadeiramente sinto e lamento que pelo vislumbre do limite, pela forma de um corpo não se contenham e se afoguem, ainda no raso de mim. E nade quem sabe e pode a procura de saída porque o mundo habitado pelos homens se torna cada vez menor.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Entorpecimento literário
domingo, 11 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Todas as vezes que ia ao banheiro se lembrava de quem era. E às vezes se sentava, em qualquer lugar, e pensava nas coisas até que o cachorro latisse. Mais cedo ou mais tarde o calor faria com que saísse. Havia o cheiro e o espelho. Trocaria os pelos por escamas e de novo era o que foi, ali, naquele lugar.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Rebeldia
Recuso-me aos sacrifícios.
Só ao que desejo pertence meu sangue e meu calor.
Sou ovelha, mas sou negra.
terça-feira, 28 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Folhas se soltando, muitas orelhas e manchas, muitas manchas. De tinta, de sujeira, do tempo passando. A poeira que encobre as coisas mas que também faz espirrar. E é pra isso que servem os descongestionantes, para que se possa fumar, dizer e apaixonar. Ao cansaço. Por quantos de nós cada um é? A força que infla o peito faz lembrar o atleticano de dois anos, que nem pombo, galo sote e zingador! No canto e no grito, tudo o que se é.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Dormiu pouco na noite anterior e já conhecia a sensação que se acentuava, mais desejosa a cada dia, à espera dos acontecimentos. Naquele dia o tempo estava bom, um calor gostoso mas que pouco valeu por conta do amuamento. Não havia dito nada. Movia-se, no mesmo princípio do dia em que completava as voltas que ainda daria, caso o planeta se acabasse num feriado. E naquele lugar, nos feriados, nada abria. Esperava que alguma coisa fosse dita logo cedo, que é melhor, pensava. Mas é diante da experiência que a linguagem se constrói, para os homens. Os seres de silêncio se conjugam em todos os tempos.
domingo, 12 de julho de 2009
Em algumas manhãs, todo o sentido da vida era molhar terra e sementes e receber o afago do gato, testemunha do mesmo milagre, não manchado pela intenção ou pela necessidade de se explicar. O mesmo gato que agora ouve um discurso sobre a importância de que tratamentos alopáticos não sejam interrompidos e sobre a eficiência de analgésicos e antibióticos. Por ter recebido afago sentia o peso de um amor que lhe abriria à força a boca, a despeito do vômito e da revolta, fazendo descer pela garganta o comprimido.
Violação de direitos
segunda-feira, 6 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Desorganização
Era o que disfarçavam as gavetas cuidadosamente limpas e arrumadas. As peças separadas por cores e circunstâncias. Cheirava bem.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Ausência de uma bóia
Porque se digo é com minha própria voz e minha fala é assim mesmo, estabanada e desajeitada. No fim só restará lembrança é dos braços, tanto que gesticulavam. Parecia afogamento.
E noite digo. E embora sinta possível o feliz, como medicamento ao alcance da mão e, mais do que o fim, começo, com ele não sacio minha insatisfação. Certa noite ela veio, para buscar. Fez pirraça, demorando tanto... encontraria o caminho sozinha. Não quis ir? Pois que fosse, e se o querer mudasse de idéia, que voltasse. Mas ainda são necessárias essas paisagens de pobreza para que sejam cultivadas as farturas e não tornei a ver-lhes a sombra. Sobre os olhos ficou a poeira da rua, como fotografia, guardada no álbum de memórias em que se transformou todo o resto. E de novo o cão morria pelas mãos de quem o amava. E não poderia dizer já que a isso se dedicam os loucos e os que se calam. Imensurável é a liberdade da solidão e o monólogo da sua afirmação, escapado na tentativa de outro. E algumas vezes ela vem, feito cão magro, lambendo a mão com a lembrança de enxotar, ainda assim, ainda não. Restaria um destino de nome a cumprir e, por ser grama, não saberia ser junto ao que é suposição além de si. Toda a verdade que sabia era a da chuva, do sol e da vontade de brotar.
Os desejos permanecem por sua ausência e das impossíveis alegrias surge a de reconhecer rostos e rotas. Só saía do quarto depois de morta, enquanto cultivava paixões por personagens, o cavaleiro solitário, homem deprimido ao constatar a ansiedade dos de sua espécie em matar mais rápido e em maior quantidade. Só depois escreveriam mais rápido. E por amor digo que de nada serve à escrita a velocidade. Lenta e vagarosa, se destina ao depois de um já sido, acontece quando é tarde demais. Alinhavo de rupturas e esgarçamentos. E se escrevo é só por ter mãos e por, das coisas feitas pelos homens, sempre buscar as marginais. E amaldiçoados são todos os poetas porque no começo era a vogal, o grunhido, o susto em dizer. E em mim chuva sempre foi verbo. E sonho. E delírio.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Alimento dentro da cuia e com flor
Reação a que os corpos estão expostos, pelo contato com outros corpos, da mesma e das mais variadas espécies. Sim, como as gripes. Pneumonias, alergias, histerias, orgasmos, deslumbramentos. A busca pelas alturas dos abismos e olhar para o fundo das coisas. Os que estão sob contágio apresentam um padrão hormonal e psíquico mas com reações das mais diversas. Como as causas. Muito já foi inventariado e catalogado, e ainda será por ser o individuo mais novo o extremo da potencialidade de sua espécie. Fortalece se saber fraco frente ao outro. Pulsar descompassado buscando ritmo de vida que suspire, espreguice e sinta a força de brotar que é o abraço amoroso do sol. É o que faz pensamento buscar explicação porque a tudo se complica se difícil já é a opção de se cumprir. É engolir o outro, ruminar o outro, vomitar o eu e, junto, a ilusão. A desilusão é presente como casulo rompido. A paz do mandruvá.
sábado, 13 de junho de 2009
E o que mais senão o já conhecido e vivido poderia ser tão forte e me tirar do em que me agarro e me mantenho atada como sina e profecia? E dos oráculos, nenhum teve ainda a potência de uma voz infantil que disse, quero esse. Esse não pode? Fico sem nenhum porque não quero o que não quer o meu querer. E assim é. O desejo da voz. Aquela cansada e que se oferece em sacrifício e oferenda. A que escorre como vida, dor e veneno, remédio e cura. A que empurra de barranco em meio à chuva que a tudo dissolve e faz de todos terra de ser coisa. A voz que torna o ouvido rio livre de represas, que corre e leva em sua força o desejo de mais. E de mar. A voz que me livra de mim e do que fui. A voz que me faz sincera e aberta ao amor e ao abandono e, de ambos, ciente da dimensão e do limite.